Vida
Alemanha
Em 29, Chateaubriand propôs
a Sérgio uma viagem à Alemanha, Polônia
e Rússia, enviando reportagens para o "O Jornal".
Embarcou em junho, no Cap Arcona.
Na mesma viagem seguia Josias Leão. Juntos, desembarcaram em Hamburgo,
rumaram para Berlim, cautelosos, com pouco dinheiro. Sérgio não
conseguiu regularizar os papéis em tempo de alcançar a Rússia
mas, em setembro, foi até à Polônia. Com passe de trem
gratuito, percorreu quase todo o país. Recorda sempre o frio terrível,
causador de uma gripe notável.
Regressando a Berlim, a
Embaixada o indicou para trabalhar na Revista "Duco", redigida
em alemão e português e especializada nas relações
comerciais teuto-brasileiras. Depois, recomendado pelo consulado,
traduziu scripts de vários filmes da Ufa. Entre eles,
o Anjo Azul.
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A correspondência
para o "O Jornal" era meio esporádica, mas deu para
entrar em contato com gente interessante: Thomas Mann, Willy
Muzemberg (deputado comunista no Reichtag), Chattopandiaya
(príncipe hindu relacionado com comunistas e diretor
de uma Sociedade para a Paz), Henri Guilbeaux (francês,
pacifista, que fundou na Suíça, a revista
"Demain", onde colaboraram Bertrand Russel, Stefan Zweig,
Romain Roland). Na Suíça, Guilbeaux conheceu
Lenin, que, mais tarde, convidou-o para ir à Rússia
e o nomeou representante do Pravda em Berlim. |
Um dia, Sérgio foi
procurar Horwarth Walden, à cata de informações
sobre a revista expressionista "Sturm". Para surpresa sua, deparou
nas estantes do escritório, com a "Klaxon" e a "Estética":
obra e graça de Mário de Andrade, que se correspondia
com o grupo do "Sturm".
Num café próximo a
seu trabalho e frequentado por uma roda de intelectuais alemães,
houve outro encontro interessante: Theodor Daubler, poeta de grandes barbas
e grande nomeada.
Sem regularidade, assistiu as aulas
de História e Ciências Sociais na Universidade de Berlim.
Algumas aulas de Friedrich Meinnecke, professor de História.
Familiarizando-se com o idioma da
terra, pôs-se a ler os alemães: o dito Meinnecke, Max Weber,
o crítico Gundolf e, na ficção, Kafka, Rilke, Hoffmanstahl,
Stefan George. Aproveitava, igualmente, a facilidade de adquirir livros
franceses e ingleses.
Em Berlim, Sérgio viveu uma
época de grande euforia mundana e boêmia, com namoradas e
amigos internacionais. Os grandes companheiros brasileiros, nessa fase,
foram Raul Bopp e Ildefonso Falcão. À chegada, cruzou com
Mário Pedrosa. Antonio de Alcântara Machado surgiu, de surpresa.
E Astrogildo Pereira, rapidamente.
Ao mesmo tempo, presenciou a grande
eclosão do Nazismo, com o partido arrancando para os primeiros lugares
entre os mais votados. Com a revolução de 30, as possibilidades
de trabalho escassearam. A revista "Duco" foi suspensa. A Ufa diminuiu
tradução de filmes. Sérgio teve de regressar ao Brasil.
Pelo Natal de 1930.
Enquanto viajava, nasceu
em Berlim, seu filho Sérgio Georg Ernst, filho de Anne
Margerithe Ernst.
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