Vida
Vida de Estudante e de
Literato
|
Nesse mesmo ano de
1921, matriculou-se na Faculdade de Direito da rua do Catete.
Aí, de notável, aconteceu a figura humana
de Edgardo de Castro Rebelo, naquele tempo professor, mais
tarde amigo. Colegas de turma, entre outros, eram Vasco
Leitão da Cunha, Prado Kelly, Mário da Costa
Guimarães, José Bonifácio Olinda de
Andrade, Francisco Soares Brandão, Álvaro
Teixeira Soares, Waldemar da Rocha Barros, José Maria
Lopes Cansado, Sérgio da Rocha Miranda. Sérgio
jamais foi um estudante assíduo nem interessado.
Rodrigo M. F. de Andrade comentava, divertido, sua total
inabilidade no campo jurídico. Em compensação,
foi na faculdade que nasceram duas grandes amizades: Prudente
de Morais Neto e Afonso Arinos de Mello Franco, estudantes
um pouco mais moços que Sérgio. |
diploma
de bacharel em Ciências Jurídicas
Prudente era companheiro
de conversa, entre as estantes da Livraria Garnier onde ambos
pesquisavam toda a literatura inspiradora do movimento modernista,
companheiro de diálogos (ou monólogos alternados?)
pela noite afora, nas mesas do Lamas, nas caminhadas pelos bairros
da zona sul. Em 1924, Prudente sugeriu fundarem, juntos, uma
2ª revista do movimento. Encontrando Graça Aranha
na Av. Rio Branco, falaram do plano. Graça animou-se,
sentaram-se os três numa mesinha da Casa Carvalho e, de
lá, a revista saiu batizada (pelo Graça): "Estética".
Sua existência foi curta. Três números. Quase
um ano de planos, entusiasmo, tenacidade, desistência.
foto
de Prudente de Moraes Neto, em artigo de jornal
foto
da capa da Revista Estética
Essa tentativa em revista modernista
não foi a primeira. Já em 1922, o grupo de São Paulo
nomeara Sérgio representante da "Klaxon", no Rio, onde o assinante
nº 1 foi Rodrigo Octavio Filho.
Nos primeiros
anos de Rio, Sérgio encontrava-se sempre com Ribeiro
Couto que, um dia, apresentou-lhe Manuel Bandeira, na esquina
da avenida com São José. Ligaram-se logo e Sérgio
escreveu sobre ele (ou sobre o Carnaval?) no Fon-Fon. Pouco
tempo depois, apresentou-lhe Prudente. "Neto do Presidente!",
riu Manuel e encaminharam-se os três para o Café
Chave de Ouro. E para Sérgio e Prudente, Manuel virou
logo o grande amigo.
Ribeiro Couto adoeceu, partiu
para a Serra da Mantiqueira, mais tarde para Marselha, como
funcionário do consulado.
A convivência com os amigos
paulistas persistiu assídua, por algum tempo. Por volta de 1922,
Guilherme casou-se, romanticamente, com Baby Barroso do Amaral, logo adotada
e querida pela turma do marido. Residiram longa temporada no Rio e, em
sua casa de Botafogo, em seguida de Copacabana, reuniam gente, especialmente
às 6ªs feiras. A toda hora lá apontavam os paulistas:
Tácito, Couto de Barros, Rubens de Moraes, Mário de Andrade,
Oswald. Do Rio, entre os freqüentadores habituais, lembra-se de Graça
Aranha, Ronald de Carvalho, Renato de Almeida, Afonso Arinos, Di Cavalcanti
e Manuel Bandeira, apaixonado pela Maria Henriqueta, irmã de Baby.
O grupo carioca, ainda mais numeroso,
reunia-se às 4ªs feiras em casa do Ronald. Aí, apareciam
também, Vila Lobos, Agripino Griecco, Peregrino Júnior, Paulo
Silveira, Luís Aníbal Falcão (amigo do Graça).
Era tempo do Brasil governado por
Artur Bernardes. Falava-se de política, de arte moderna. E de Literatura.
A fonte literária filosófica era mais francesa. Com exceções.
Couto de Barros, por exemplo, afinava com os ingleses. Mário interessava-se
por todos, alemães e americanos inclusive. Oswald e Menotti um pouco
pelos italianos. Lia-se Proust, lia-se poesia de Valéry e Claudel,
lia-se o grupo de vanguarda (Apolinaire, Cocteau, Cendrars) e os surrealistas
Breton, Aragon, Eluard, nos quais Prudente e Sérgio eram especializados.
De ingleses, Conrad, Thomas Hardy (Sérgio escreveu sobre este um
artigo no Diário Nacional, órgão do Partido Democrático
de São Paulo), Catherine Mansfield, Galsworthy, Yeats, o irlandês
Synge, Bernard Shaw, T.S.Elliot. Havia as revistas Criterion e The Adelphi,
assinada pela Livraria Crashley. De americanos, Dreiser e Sherwood Anderson.
E os russos, Tchecov, Dostoiewisky, Tolstoi. Os alemães serviam
mais para estudo - Theodor Lessing (emprestado por Alceu Amoroso Lima),
o holandês Huysinga, os filósofos russos Rosanov e Chestov.
Graça Aranha, satisfeito de
conviver com os jovens, convidava-os seguidamente para o Hotel dos Estrangeiros,
em frente à praça José de Alencar, com suas mesas,
suas cadeiras de palha na calçada larga, debaixo das árvores
frondosas.
Através do Graça, Sérgio
conheceu Paulo Prado, que lhe emprestou o "Ulysses" de Joyce, recém-publicado,
proibido na Grã-Bretanha, mas logo repercutindo mundialmente. Paulo
Prado freqüentava o bar do Palace Hotel, na Av. Rio Branco, e o Café
Nice. Yan de Almeida Prado também aparecia por lá.
Marinetti, Pirandello
e Blaise Cendrars vieram ao Brasil e a turma de moços
estava sempre presente. Sérgio lembra de ter entrevistado
o Pirandello e Cendrars para o "O Jornal".
|
|
Outro amigo paulista que
o Sérgio nunca perdeu de vista foi o Antonio de Alcântara
Machado. Antigo contemporâneo no ginásio de São
Bento, no princípio do modernismo não acreditou
muito no movimento. Mas, aos poucos, ele e o Oswald de Andrade
descobriram-se mutuamente e o Alcântara entregou os pontos.
Nas idas ao Rio, gostava de visitar livrarias: Garnier, Leite
Ribeiro, Soria e Boffoni. E tornou-se grande amigo de Rodrigo,
Prudente e Manuel Bandeira.
As relações literárias
não se restringiam à área modernista. Na Garnier,
Prudente e Sérgio encontravam-se constantemente com Alberto de Oliveira,
que convidava os amigos para sua casa em S. Januário. Freqüentadores
da Garnier, eram igualmente Américo Facó, Jorge Jobim (pai
de Tom Jobim) e Raul de Leoni.
Raul de Leoni gravou em Sérgio
uma lembrança excepcional de vivacidade intelectual, humor e alegria.
Uma imagem brilhante. Sérgio visitou-o várias vezes em seu
exílio, em Itaipava, onde morreu, em 1926. Até hoje fala
nele com enorme saudade e sente, pela Ruth, particular afeição.
Em casa de Raul, conheceu o franciscano Frei Luís, com fama de santo
entre a pobreza metropolitana. Conheceu também Lélio Landucci
que, junto com Raul, animou a pequena indústria de cerâmica
do casal francês Mr. e Mme. Gonod, em Itaipava.
carta
de Raul de Leoni - pág.01
- pág.02
- pág.03
Além de constantes visitadores
da Garnier, Sérgio, Prudente e mais o Álvaro Teixeira Soares,
colega da faculdade, estendiam suas buscas até à Crashley,
livraria inglesa à rua do Ouvidor 68. E à livraria Edanée,
mais tarde livraria Alemã, onde conheceu Eric Eichner, em princípios
de hábil atividade livreira, futuro fundador da livraria Kosmos.
Ribeiro Couto e Renato de Almeida trabalhavam
na América Brasileira, revista financiada por Elysio
de Carvalho que costumava convidar para sua casa, na praia do
Flamengo, os freqüentadores da redação. Nessa
Revista, Sérgio publicou uma fantasiaæ "F.1". E
havia a revista Mundo Literário, publicada pela livraria
Leite Ribeiro, outro ponto de encontro, onde Sérgio conheceu
Cecília Meireles.
|